História
Mesmo durante sua vida humana, Leah já tinha as características que a tornam ainda tão diferente dos outros. Desde seu bom-humor, seu otimismo e sua preocupação com o próximo até procurar sempre basear suas decisões na razão. Nasceu em uma família de classe media com dois irmãos mais velhos. Moravam perto do porto pois seus pais trabalhavam como comerciantes. A vida deles era melhor que o normal para quem fazia esse tipo de coisa, mas como eram imigrantes alemães, possuíam família lá que lhe mandavam produtos locais que faziam grande sucesso e facilitavam os lucros.
Sua relação com eles sempre foi ótima, ela era boa aluna, dedicada e sempre prestativa, ajudando em tudo o que podia e mais um pouco. Ela adorava estudar Alemão com seus pais em casa, desde pequena falava com os pais, além do português que aprendia na escola, mas além dessas línguas ela gostava de tentar aprender outras, entre elas espanhol e italiano principalmente, sem desprezar o inglês obrigatório da escola, gostando de ler e ouvir musicas nessas línguas. Outra coisa que ela adorava alem das línguas, era ir a museus e exposições de arte para ver esculturas, pinturas e outras obras, era delicioso.
O que mais a chateava e a deixava triste eram as brigas familiares. Ela odiava qualquer tipo de briga para falar a verdade, mas as que aconteciam em sua casa eram as piores. Mesmo assim ela tinha um política muito rígida de nunca se intrometer em brigas, por que ela nunca sabia quem falava a verdade ou não, afinal uma historia não tinha apenas uma verdade, tudo dependia do ponto de vista. Nesses casos ela preferia simplesmente se afastar, sair pra caminhar, ler um livro em seu quarto ou qualquer coisa assim.
Certa noite uma dessas brigas sem sentido começaram, só que parecia que os dois não iriam desistir tão fácil, estava tão intensa a briga que até seus pais tiveram que se intrometer. Ela avisou que ia dar uma volta, mas claro que ninguém nem a ouviu. Ela pegou uma blusa e colocou sobre os ombros, era verão, mas o vento a noite era meio gelado por causa do mar. Ela caminhou calmamente até o píer, o lugar estava vazio, ela viu uns 3 ou 4 trabalhadores que estavam arrumando os barcos para zarpar no dia seguinte. Se sentou na pontada passarela de madeira deixando os pés pendurados cruzando os braços enquanto sentia a brisa bater em seus cabelos e os afastar de seu rosto.
Era uma noite linda, com a lua cheia iluminando todo o mar, e as estrelas pareciam uma sinfonia com todo aquele ambiente. O barulho das ondas quebrando parecia o toque final perfeito para uma bela depressão. Fechou os olhos sentindo o cheiro da água salgada até ouvir alguns passos na madeira rangendo atrás dela, os passos foram ficando mais perto e depois param. Ela não sabia se deveria olhar ou não, talvez se não olhasse a pessoa fosse embora. Ela ficou branca e seu coração começou a bater freneticamente, finalmente ouviu uma voz, grossa, calma, masculina.
- Com licença senhorita, será que poderia dividir essa paisagem comigo? Prometo não incomodar.
Ela virou a cabeça e olhou para cima o analisando. Não sabia se ele era tão bonito daquela forma ou se a luz da lua o ajudava, mas era simplesmente magnífico. Seu sorriso brilhava e passava uma confiança indescritível. Ela sorriu de volta se sentindo mais aliviada e fez que sim com a cabeça. Ela não queria uma companhia, porem essa poderia ser agradável. Ouviu a madeira ranger ao seu lado enquanto ele se sentava assim como ela. Era uma homem bastante distinto, não era muito velho, bem vestido e bem vistoso por sinal. Assim que ele se sentou ela sentiu emanar dele um cheiro delicioso, algo doce, misterioso, ela não sabia bem, mas era...hipnótico. A voz voltou a soar.
- Por que está sozinha aqui? A senhorita parece um tanto triste, gostaria de conversar?
O modo como falou parecia um antigo amigo realmente preocupado, obviamente ela sabia que não deveria falar com estranhos, ainda mais sobre a sua vida e a noite em um píer vazio, por isso decidiu responder, mas sendo o mais discreta possível, até por que era impossível resistir a aqueles olhos tão calmos e brilhantes.
- Bem, foi um pequena briga de família, meus irmãos.
Ela falou tentando não demonstrar emoções, porem se perguntou se era tão transparente a ponto dele ver que ela estava mal. Deu de ombros em seguida e levantou os olhos das mãos para o horizonte. As ondas ficavam cada vez mais calmas, o lugar estava quase que silencioso. Ela sentiu seu olhar em seu rosto e logo em seguida sentiu seu rosto corar. Ele fez que sim com a cabeça.
- Eu entendo problemas de família, principalmente com relação a irmãos.
Ela o olhou curiosa, parecia perdido em pensamentos, porem ainda tinha seus olhos nela. Recuperou a visão realmente a fitando e chegou um pouco mais perto, o que a fez corar mais ainda.
- Não se preocupe Leah, vai ficar tudo bem ok? Confie em mim, você é quem falta...
Ele disse afagando seus cabelos loiros, mas...como raios sabia seu nome? E por que começava a ficar cada vez mais perto? E quem faltava para o que? O alerta de perigo da garota ligou e começou a apitar muito, muito alto, mas aqueles olhos, aquele sorriso, aquele cheiro, tudo a mandava ficar. Ela sabia que tinha que sair dali, mas ele estava tão perto.
- Me desculpe...
Foi a ultima cosia que ela ouviu antes de sentir seus dentes em seu pescoço e desmaiar. Não se lembrava o que tinha acontecido direito, mas sabia que seu corpo doía um pouco e sua cabeça latejava. Se sentou na cama, o lugar estava escuro, só podia ver uma sombra se aproximar agora e sentar-se ao seu lado pegando sua mão gelada e a acariciando.
- Que bom que acordou, já estava preocupado se você resistiria, mas posso ver que é uma garota forte, fiz uma ótima escolha.
Ela viu aquele sorriso brilhante novamente, mas agora ele parecia satisfeito. Ela deveria ter medo, deveria fugir dele depois do que aconteceu, mas só sentia compaixão, pena, e talvez algum afeto, uma ligação, algo que ela não sabia explicar. Sorriu para ele se sentindo extremamente frágil e vulnerável. Ele a aconselhou a se deitar novamente, e ela o obedeceu como se fosse um pai, talvez fosse isso que ela estivesse sentindo agora.
Ele foi bastante atencioso, cuidou dela enquanto esteve fraca, lhe explicou absolutamente tudo, sobre vampiros, sobre os sete, sobre os descendentes, sobre as outras raças, fraquezas e tudo. Uma semana depois ele a levou para conhecer seus ‘irmãos’, Sorrell e Lucio. Pacifica e de fácil convivência, ela se deu muito bem, inclusive com seus ‘primos’, Lucas, Edgar e Natasha, porem eles pareciam não gostar tanto assim dela, além de serem bem pavio curto.
Mas algo que Leah com certeza não esperava aconteceu, Miguel simplesmente...sumiu, assim como os outros, e pelo que ela entendeu e pesquisou, eles foram trancados em uma caixa e sumido, e novamente a vingança foi adiada, o que por certo lado era bom, mas ela sentia falta de Miguel como seu ‘pai’.
30 anos se passaram desde que eles sumiram e estavam todos a procurar, alguns para trazê-los de volta e alguns para destroçá-los. Ela ficava meio em cima do muro, pois queria seu ‘pai’ de volta já que ela quase não se lembrava de sua família antes do ocorrido, e eles haviam sumido mesmo assim, mas sabia que se voltassem poderia ser muito ruim pela vingança do sétimo. A verdade é que ela preferia ficar bem longe da história e se fazer de desentendida quando alguém lhe perguntava algo sobre aquilo.